terça-feira, 8 de julho de 2014

CONSTANTINA EXPLORA MEDOS INFANTIS E MENTIRAS ADULTAS



A médica gaúcha Cínthya Verri estreia na literatura com o livro Constantina, reproduzindo em versos o que ela não sonhou ser quando era criança.

Pu­blicada pelo selo paulista Edith, a autora retrata sua infância no município onde nasceu, no extremo norte do estado, situado a 355 quilômetros de Porto Alegre. Constantina é sua Comala, sua Macondo, cidade mítica em que enfrenta seus fantasmas e disseca seus traumas.  Disposta em três capítulos (Destino, Fatalidade e Acaso), a obra é marcada pelos versos pungentes, curtos e densos. Expõe os excessos conservadores da educação que sofriam as meninas no interior do estado.

“dentro de casa
precisava ter ânimo
para ficar sem vontade”

A exemplo de um álbum secreto de fotografias ou um lado B da ternura, apanha o terrível encontro entre os medos infantis e as mentiras adultas. A poeta responde às censuras sofridas com ironia e combate o machismo que perdoa qualquer agressão física. 

“mais uma mentira de minha mãe
as palavras não doem
mais do que um soco.”

Com uma estrutura circular, na qual os poemas sempre voltam ao ponto de partida, Cínthya tem uma visão dark do mundo, entre o cômico e o trágico, similares aos desenhos de Tim Burton. 

“Meu desespero não é preto­e­branco, é colorido”, pontua Cínthya. “A alegria que é monocromática”.

A crítica Noemi Jaffe é uma das entusiastas do estilo substantivo e atormentado de Cínthya: 

“aqui há zelo, contenção e minimalismo, embora os poemas não sejam cerebrais. Há também nostalgia e melanco­lia, e o mistério de nenhum transbordamento.” 

Ela investiga a origem das farsas familiares, da necessidade de fingir felicidade mais do que ser feliz. A ingenuidade do olhar da criança serve para ampliar o choque. Numa aula de Ciências do Ensino Fundamental, na qual a turma examina uma rã, ela experimenta o sadismo da pureza:

“a rã estrebucha quando enfio a faca
então cutuco, mas não se mexe
profe
já abri
e agora como fecha?”

Constantina é terapia da crueldade, comportamento dialético, que nos ajuda a acolher os pequenos fracassos e a entender as diferença entre escolher (responsabilidade) e aceitar (submissão). 

“minhas coisas me servem com fidelidade não significa que me aceitam.”

A AUTORA
Natural de Constantina e radicada em Porto Alegre, Cínthya Verri, 31 anos, é médica formada pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Idealizou a Clínica Verri, no bairro Moinhos de Vento, espaço multidisciplinar de saúde que gerencia desde 2007. Mantém o quadro semanal Quase Perfeito na Rádio Gaúcha, além de colaborar com crônicas nas rádios Ipanema e Elétrica. Compositora, cantora, desenhista, blogueira, ilustrou o livro infantil "O Menino Pescador", para Mercuryo Jovem, e prepara um especial de músicas homenageando o artista francês Serge Gainsbourg. Há três anos, criou o projeto cultural Cineterapia, no Cinebancários, onde uma personalidade debate seu filme predileto em sessões com entrada franca.

Constantina (Edith, 2012)
Autora: Cínthya Verri
Preço: R$ 25,00
80 págs – 14 X 21 cm
ISBN 978-859039359-7

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